Paiol da Cultura recebe instalação ‘Nem tudo que reluz é ouro’ da artista Simone Fontana Reis

Pautada na ancestralidade brasileira, intervenção trará Terra Preta e réplicas em bronze de cacos de cerâmica ancestrais em parede de vinte e quatro metros de comprimento

 

Da Redação – Ascom Inpa

Foto: Acervo da Artista Simone Reis

 

SiteFotoAcervodaArtistaSimone Reis 

 

Provocar reflexão sobre tecnologias e conhecimentos pré-colombianos brasileiros, visando em especial o resgate de valores de etnias amazônicas, é o objetivo da instalação Nem tudo que reluz é ouro, da artista plástica paulista Simone Fontana Reis. A exposição poderá ser vista a partir desta quarta-feira (14) até o dia 20 de agosto, no Paiol da Cultura, dentro do Bosque da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), em Manaus (AM).

Na instalação, Simone incorporou a Terra Preta de Índio e gestos de sua feitura, no fazer artístico. Ela cobriu as paredes do espaço expositivo, que tem 24 metros, com um composto de Terra Preta e usa réplicas de cacos cerâmicos ancestrais nela encontrados, que transformados em bronze, brilham como o ouro do imaginário europeu.

Segundo Simone, os invasores europeus falharam em reconhecer a importância da Terra Preta e a enorme realização desses nativos. “Sedentos por achar ouro, não enxergaram o verdadeiro Eldorado: um método de cultura e estilo de vida totalmente adaptado aoambiente, à forma como transformavam a paisagem, enriquecendo o solo, nada desperdiçando, selecionando e domesticando espécies, usando a força das águas e seus ciclos, sem fome e sem doenças - bem diferente da realidade da Europa do séculoXVI”, diz a artista.

A escolha do local para a instalação não foi aleatória, já que o Paiol da Cultura, concebido pelo arquiteto Severiano Mario Porto, remete à escavação de um sítio arqueológico, por estar encravado na terra. E, ainda, como nos buracos de confecção de Terra Preta, o Paiol é um espaço arredondado e no meio de um fragmento florestal. Simone sinaliza que “o espaço nos clama a uma imersão reflexiva, a um momento de pausa e interação com o subsolo, como num útero, uma volta às raízes: que antigos preconceitos e comportamentos possam dar lugar ao surgimento de novas formas de enxergar a história”.

A instalação Nem tudo que reluz é ouro fala, sobretudo, da importância das civilizações nativas e o resgate da nossa cultura. A Terra Preta e os grafismos contidos nos cacos nela encontrados nos remetem ao papel da mulher na sociedade e à preservação da floresta. Segundo a curadora, Katia Canton, a artista defende que a tecnologia da Terra Preta indígena era passada de mãe para filha como uma herança silenciosa – informação encontrada no livro Terra Preta, da cientista política alemã Ute Scheub. A partir de resíduos, restos de alimentos, plantas, excrementos, carvão, cacos cerâmicos e outros componentes submetidos a uma queima filtrada de baixo teor de oxigênio, talvez sem querer ou talvez conscientemente, estas mulheres faziam com que o carbono e os nutrientes ficassem retidos na mistura ao invés de migrarem para a atmosfera, tornando esta terra fertilíssima.

Depositado em potes cerâmicos, esse preparo, ao ser queimado, exala fumaça e tem o poder de regenerar toda a terra ao redor. Eis um poder feminino: a criação de uma terra que nutre e se multiplica, a invenção de uma tecnologia singular, de temporalidade expandida e plena. Por ser um método de sequestro de carbono, esta tecnologia tem grande potencial para reverter o aquecimento global, segundo a artista. Dialoga com a antropologia, a agricultura, a ecologia e a sustentabilidade e com problemas crônicos como a pobreza, a fome e a falta de água. Ainda questiona noções arraigadas sobre o que é ser civilizado ou o que significa ser uma sociedade desenvolvida.

Como nasceu o projeto para a instalação ‘Nem tudo que reluz é ouro’

Foi durante sua imersão artística no programa Labverde (www.labverde.com), no qual a artista passou 15 dias na Reserva Florestal Adolpho Ducke na Amazônia, pertencente ao Inpa, e onde entrou em contato com os pesquisadores desse Instituto de pesquisa, que tudo começou. Naqueles dias, Simone teve contato com o pesquisador e seu orientador durante o processo artístico, Charles Clement, um dos defensores da teoria da domesticação da Amazônia.

“Sinto-me honrado que a Simone se inspirou em minha apresentação sobre como os povos nativos da Amazônia haviam domesticado plantas, um animal (o pato) e, sobretudo, as florestas de um bioma antes da conquista pelos europeus em 1.500 dC”, diz o pesquisador Clement. “Sua apresentação oferece uma crítica a nossa sociedade moderna, que não encontra um caminho de desenvolvimento na Amazônia, muito menos um caminho sustentável”, ressalta.

O Labverde é um programa voltado para criadores que desejam compreender e refletir sobre a natureza e a paisagem. Uma vivência intensiva, na área natural mais importante do planeta, para estreitar as relações entre a ciência, a arte e o meio ambiente.

Sobre a Terra Preta

O estudo da Terra Preta comprova que a Floresta Amazônica, que por séculos foi idealizada como uma paisagem intocada, inabitada, verde e virgem, é na verdade um imenso jardim cultivado - uma floresta antropogênica que revela valiosos conhecimentos sobre nossos antepassados, seus hábitos, crenças, comportamentos e organização social. Os povos nativos estavam terra-formando a Amazônia, quando Pedro Alvares Cabral apareceu e interrompeu o processo. Foi por meio da confecção da Terra Preta e o cultivo sustentável, fruto de observação, inspirações e experiências dos habitantes nativos, que se tornou possível a vida de diversas civilizações sofisticadas e densas na Amazônia nos milênios antes da conquista.

 

Sobre Simone Fontana Reis

 

Simone Fontana Reis nasceu em São Paulo, 1965. Fez mestrado em Londres, na Central Saint Martins College of Art and Design, graduou-se em 2014. Suas práticas e expressões artísticas navegam entre pinturas, esculturas, instalações e vídeo.

Por ser uma apaixonada por florestas, há 20 anos, a artista pesquisa plantas e orquídeas. O interesse pela floresta levou-a a descoberta da comunidade indígena Kadiueu no Brasil Central, povo que ela visita regularmente, deixando-se influenciar por seus desenhos. Participou de diversas exposições em Londres, São Paulo, Nova Iorque e Suécia, onde viveu por oito anos. No seu trabalho de colaboração com cientistas na London School of Tropical Medicine, teve seu trabalho premiado. Foi nominada para New Sensation - 2014 pela Saatchi Art e Hot-One-Hundred - Schwartz Gallery, LondresEm 2016, participou da residência Labverde, onde entrou em contato com pesquisadores do Inpa. Participa neste momento do 66º Salão Paranaense no Museu Oscar Niemayer - Curitiba (PR).

 

Serviço

Instalação: Nem tudo que reluz é ouro

Visitação de 15 de junho a 20 de agosto

Local: Paiol da Cultura | Bosque da Ciência | INPA

Endereço: Av. Bem Te Vi (antiga Rua Otávio Cabral), s/n, 

Petrópolis – CEP: 69067-001m (anexo à Sede do INPA)

http://bosque.inpa.gov.br/bosque/

Horário de visitação: terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 16h30

Sábados e domingos das 9h às 16h30

Entrada franca no Paiol

Agendamento de visitas: 92 3643-3192/3643-3293    

E-mail:  O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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